BANDOLENÇO E GUACYRA - BUGRINHA - OMB 5.001; PCD-0506


Mais uma produção de Paulo Wilson.

Guarânia baseada em fato real.
Trata-se do caso, divulgado de maneira sensacionalista pela revista O Cruzeiro, a partir de 1952,
do amor improvável entre o sertanista gaúcho Ayres Câmara da Cunha (1915-1997) e a 'selvagem' kalapalo, primeira tribo contatada pelos irmãos Villas Bôas, em 1945 (aqui referida como gurutiré; na verdade os kaiapó-gorotirè do sul do Pará), de nome Diacuí.

Pelo artigo, disponível na internet, Diacuí: a fotorreportagem como projeto etnocida, da docente do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Helouise Costa, tem-se uma dimensão de como o semanário dos Diários de Associados, explorou hedionda e comercialmente o caso.
Ali está, em detalhes, todo o asqueroso projeto colonialista de dominação capitalista, macho, branco e etnocêntrico.
Para se ter uma ideia da novela meticulosamente explorada em torno do caso, o midas Assis Chateaubriand (1892-1968), foi padrinho do casal!

Na verdade mal consegui chegar ao final da análise de Helouise Costa, assolado por uma tristeza inenarrável. Sentimento perfeitamente chorado nessa gravação.

Dizem que o Brasil não pode dar certo já que foi construído sobre um cemitério de índios. Mas o caso Diacuí chafurdou não apenas nas tumbas de povos inteiros, mas nos seus fantasmas vivos. Pode-se entender melhor como a espoliação desumana, difundida gananciosamente, fomentou, por exemplo, que um dia playboys de Brasília queimassem vivo Galdino de Jesus (1952-1997), pataxó baiano, quando dormia num ponto de ônibus na capital federal.

Bugrinha é uma resposta, profundo e secular pesar, ao genocídio da mais bela era humana.

  No canto há dois personagens numa só voz; o 'valente / caçador audaz' e o pajé, preocupado com o equilíbrio abalado da tribo.
Interessante o nível do apelo empregado, sendo o caso tratado pela autoridade espiritual e não pelo cacique.

Bugrinha que deixou as selvas do Alto Xingu
Bugrinha que fugiu da tribo do gorutiré
Bugrinha que trocou o índio
por um homem branco
volte pra trazer o teu sorriso franco
vem obedecer a voz do teu pajé

Vem bugrinha fujona
porque abandona
 quem desde criança
eu te amo querida(o)
tens a minha vida
es minha esperança

E o índio que era valente
caçador audaz
agora vive acabrunhado
sem nada fazer

Não pesca
 não caça
 nem luta
não é mais aquele
 que se o adversário
ouvia falar nele
 se desnorteava
e punha-se a correr

Vem...!






PAPO PRO Á