IRMÃS IBEJY - GORRO VERMELHO - OMB 10.010; PCD-0545


Estreia dupla aqui hoje!

A do selo de um certo Paulo Wilson, o OMB-Seresta, que existiu na segunda metade dos anos 60, não deixando rastro algum já no começo dos 70. E dessas gêmeas maravilhosas.
Sobre a OMB não há muito o que dizer a não ser algumas dezenas de compactos, e bem menos LPs. Gravava um pouco de tudo entre sertão, jovem e brega.
Alguns compactos vieram nessa terrível capinha-estojo plástica, também nas cores branca ou preta, ideia que não vingou. Alem de muito pouco pratica o disco dentro vinha num papel vergê que reagiu com a superfície do vinil e do selo. O chiado NÃO é sujeira nem uso!

Mas vamos às Ibeji.
Em nagô 'ibi' significa parir e 'eji' denota dois. Há devoção e crença do povo iorubá nas bonanças trazidas a uma família pelo surgimento de gêmeos.
Nascidas em 7 de fevereiro de 1931 nas Alagoas.
Neide e Maria Albuquerque, ou Ibeji Albuquerque e Ibeji Idaiá ou ainda Ibeji Maria e Maria Ibeji! Filhas do militar Luíz de França Albuquerque (1883-1962), nascido em Viçosa, governador de Alagoas na primeira metade dos anos 30, e da dona-de-casa Maria Morgado Fortes de Albuquerque.

No final dos anos 50 fixam residência em São Paulo e iniciam carreira artística em 1962 no programa de calouros da Rádio Nacional Ai Vêm o Pato, criado por Jayme 'Capitão Balduíno' Moreira Filho. Tiram primeiro lugar e levam o Trono Vale Tudo - troféu do programa.
Passam, então, à televisão, atuando no Passaporte para o Estrelato, na TV Record e, logo em seguida, aparecem em diversos outros programas, em quase todas as emissoras da época.

Em 1963 gravam, por intermédio do radialista Tony Rocha, um 78 rpm com macumbas, na gravadora de Mário Vieira, a California.
Já na OMB, nos anos seguintes, saem quatro compactos (dois duplos e um simples e participam de um outro, coletânea de marchas de carnaval).
Chegam, em 1967, com o incrível LP As Rainhas do Folclore, também pela OMB.

No mesmo ano, em São Paulo, surge o Grupo Brasil Folclore Ibeji e encabeçam um 'balé folclórico', de nome As Marcianas. No final dos anos 60 são contratadas pela Swift do Brasil e partem para apresentações internacionais.

Em 1970 a dupla se desfaz, mas o trabalho Ibeji continua com Neide Albuquerque, que, salvo engano ainda é viva. Alem de fundar um museu próprio, gravou vários LPs e compactos por diversas gravadoras.

A importância extra-musical das Irmãs Ibeji sou incapaz de avaliar com acuro mas, nos anos 60, tocando seus marcantes atabaques e cantando, assevero que o que entoavam ia de ponto de candomblé a coco e baião, tudo com uma verve que remete aos mestres da síncope como Jackson do Pandeiro, Jacinto Silva, Venâncio e Corumba entre outros.
Seu único LP juntas é uma obra-prima de ritmos quentes nordestinos, com uma pitada de humor e sarcasmo na qual até pro iê-iê-iê sobra esculacho!
Sendo um dos melhores e mais originais discos de afro-coco e rojão-tupi feitos no período.
O compacto que trazemos aqui saiu antes, todas as faixas se repetem no LP mas, o batuque Gorro Vermelho lá é diferente e ainda melhor. Vale a pena conferir no youtube.

O marco das gêmeas alagoanas para a difusão do folclore brasileiro ainda está para ser melhor analisado e, principalmente, lembrado e preservado.
Ha que se dizer que as principais informações aqui citadas vieram da pesquisa Maracatu em São Paulo - expressões artísticas e culturais de Lokan Oba - Maracatu Nação (de 2012). Tese escrita por Ângela da Silva Oliveira para obtenção do título Mestre em Artes, na Universidade Estadual de São Paulo, tendo como orientador o Prof. Dr. José Leonardo do Nascimento. Disponível na internet na íntegra. Parabéns à autora!

Outro compacto dessas deusas afro-tupiniquins aqui em breve, alem de muitos outros, do selo de Paulo Wilson, a Organização Musical Brasileira e sua divisão posterior, a Seresta.






PAPO PRO Á